Capítulo 97 - Ha Zong
Eu passei o braço pelo ombro de Ha Zong, sentindo que talvez tivesse exagerado no tom. Era fácil perceber o que ele estava inventando e o que era real. Quando eu disse para ele não dizer que não sabia, ele simplesmente inventou a parte que não entendia para me assustar.
Mentir em grande escala exige uma mente altamente inteligente ou muito tempo para elaborar. O segredo de uma boa mentira está na lógica fluida e na complexidade da narrativa, que fazem a pessoa acreditar na ausência de falhas. Ha Zong, porém, não era um gênio. Por isso, abri o cronômetro no meu celular e disse:
— Não quero ouvir histórias. Vou te dar três minutos para pensar e um minuto para explicar o que sabe sobre a Pele Encantada.
— Posso admitir meu erro, mas não me trate assim — ele disse, tentando segurar minha mão. Eu apertei os dedos dele, e ele puxou a mão instintivamente.
A dor ensina rápido. Apertei o cronômetro, e ele começou a falar imediatamente:
— Já expliquei o básico. Essas coisas são feitas em pares. No passado, exploradores usavam pedaços de papel para criar “compassos” chamados Pele Encantada, mas o papel era frágil, então começaram a usar pele humana. Mas tudo isso é só lenda. Na verdade, é provável que se trate de uma espécie rara de inseto que vive em pares e consegue sentir o cheiro de seu par a grandes distâncias. Essa característica foi exagerada por contadores de histórias.
Quando o minuto acabou, ele respirou fundo e continuou:
— Dizem que, depois que os insetos morrem, as Peles Encantadas ainda funcionam. Se usadas por mais de sete gerações de insetos, elas se tornam independentes. Existe até um antigo texto da dinastia Tang que menciona isso—
— O nome do texto — interrompi. — Recite agora, ou é mentira. slot
Ele rapidamente corrigiu:
— Desculpa, desculpa. Foi invenção. Não há texto antigo, mas vi um monge usando isso uma vez. Não sei como funciona, mas essa aqui é apenas uma metade. Serve para encontrar a outra metade.
Um monge? Encontrar a outra metade?
Lembrei-me dos murais no túmulo do Rei do Mar do Sul e do meu terceiro tio jogando o boneco no canal. Para ele, aquele canal era uma saída inevitável. Jogar o boneco ali significava garantir que alguém o encontraria. Mas não fazia sentido deixar o boneco no salão principal, onde havia muitos outros. Ele queria que o boneco fosse levado.
No entanto, não fui eu quem levou o boneco. Ele me seguiu.
Ha Zong parou o cronômetro e limpou o suor da testa:
— Pense nisso com calma.
— Eu tenho mesmo um inseto no corpo? — perguntei, reiniciando o cronômetro.
Ele respirou fundo antes de responder:
— Eu inventei isso também. É possível, mas acho mais provável que você tenha tocado outra Pele Encantada. Isso pode ter atraído esta para você.
Franzi o cenho, e ele imediatamente pausou o cronômetro de novo.
Quando o reiniciei, ele saltou da cadeira:
— Pequeno Terceiro Mestre, isso é só um objeto guia. Não sei mais nada. Você é inteligente, deve conseguir descobrir sozinho.
Eu me lembrei do mural do túmulo Song no túmulo de Yang Daguang.
Capítulo 98 - O Túmulo Song
Esse túmulo Song era meu segundo objetivo, mas depois do desastre no Reino do Mar do Sul, eu não tive coragem de continuar a investigação.
Será que a outra metade da Pele Encantada apontava para esse túmulo Song? Será que eu entrei em contato com algo no túmulo de Yang Daguang que carregava o “cheiro” da outra metade, atraindo este boneco até mim?
Parece improvável. O túmulo Song ainda não foi localizado. Se meu terceiro tio conseguiu roubar o mural, ele certamente teria outro meio de me indicar como chegar lá, sem usar um método tão complicado. Isso só faria sentido se o túmulo Song fosse algo móvel ou invisível, justificando o uso de um "compasso".
Apesar disso, as mentiras de Ha Zong não eram tão numerosas. Ele sempre acreditou em folclore e poderes místicos. Embora em suas buscas por remédios e feitiços tenha encontrado mais truques do que magia real, sua fé em sabedoria popular era genuína. slot
Agora, tudo dependia do meu julgamento. Notei que Ha Zong estava evitando olhar para a língua sobre a mesa, apesar de sua postura aparentemente relaxada. Perguntei:
— Essa língua foi encontrada dentro da Pele Encantada. Tem algo a ver com o que você disse?
Ele balançou a cabeça rapidamente:
— Não é nada. Às vezes, ao remover a pele, a mandíbula e a língua são arrancadas juntas para manter a forma. Talvez tenha caído durante a decomposição.
— Mas esta não pertence ao boneco. É a língua de um ladrão de túmulos de 40 anos atrás, colocada dentro do boneco.
Ha Zong forçou um sorriso:
— Deve ser coincidência.
— Coincidência? Você está dizendo que um ladrão de túmulos decidiu, por acaso, cortar a própria língua e colocá-la dentro da boca deste boneco? — olhei diretamente para ele. — Você acha que isso faz algum sentido?
Enquanto falava, comecei a sentir algo estranho. Ha Zong evitava completamente olhar para a língua, concentrando-se apenas no boneco. Isso era ilógico. A língua era a parte mais estranha de tudo, mas ele se recusava a falar sobre ela.
Algo estava errado.
Lembrei-me de quando ele disse "Você está morto". Essa frase, dita de forma instintiva, parecia mais genuína do que todas as outras explicações inventadas.
Peguei a língua e rapidamente a movi em direção ao rosto dele. Ele saltou da cadeira, rolou para a cama e usou o boneco como escudo, gritando:
— Não chega perto! Não chega perto! slot
Finalmente entendi. Desde o início, ele estava aterrorizado com a língua. Fingiu estar mais preocupado com o boneco para desviar minha atenção.
Mas por quê? slot
— Grite outra coisa! — exigi.
— Wu Xie, se vai morrer, não me leve junto! Tire essa coisa daqui! — ele berrou.
De repente, a cabeça do boneco girou 180 graus e olhou diretamente para Ha Zong. Ele gritou, apavorado:
— Meu Deus!
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