slot:Capítulo 107: Sangramento Nasal

Limpei o sangue do nariz e olhei para meus dedos sujos, pensando que devia ser uma coincidência. Talvez, durante o resgate anterior, alguém tivesse usado força demais, lesionando minha mucosa nasal. Peguei um guardanapo, tampei o nariz e voltei a encarar o Gordo, meu tio e Pequena Flor. Enquanto pensava em outras possíveis explicações, meu tio cortou o silêncio:

“Você não vai morrer. Desde que siga as regras.”

“Então, o que está acontecendo?” Suspirei, desistindo de especular. Com todos reunidos ali, sabia que, mais cedo ou mais tarde, eles contariam.

Meu tio olhou para o Silencioso e depois para Pequena Flor antes de dizer: “Silencioso, saia. Pequena Flor e Gordo, fiquem.”

O Silencioso levantou-se e saiu sem dizer uma palavra. Outros o acompanharam, inclusive Bai She, que tentou oferecer um cigarro, mas foi ignorado.

Lá fora, as pessoas que restaram na rua exibiam expressões pesadas, assustando até os passantes que olhavam para a loja de forma curiosa. Kan Jian fechou as portas em silêncio.

Dentro, meu tio finalmente começou: “O Silencioso recebeu, sim, uma mensagem do seu terceiro tio. Embora ele não tenha me contado os detalhes, ele revelou parte do conteúdo enquanto estávamos no túmulo do Rei do Mar do Sul.”

Eu bati na mesa de surpresa. “Ah, então é por isso que ele estava tão interessado em pescaria.” Instintivamente procurei um cigarro na mesa, mas meu tio afastou o maço, e, sem querer, acabei pegando sua mão.

Constrangido, me ajeitei enquanto ele continuava: “Quem trabalha em túmulos passa muito tempo em ambientes tóxicos. É comum envelhecer com problemas pulmonares severos. Muitos morrem de fibrose pulmonar, sofrendo terrivelmente devido ao acúmulo de gases decompostos. No seu caso, é ainda pior.”

“Por quê? O que tem de diferente?” Perguntei, confuso.

“Você passou anos em contato direto com corpos altamente tóxicos. Além disso, ainda pingava veneno de cobra no nariz, uma prática completamente irresponsável. Você nunca teve um mentor de verdade nesse ofício. Tudo o que aprendeu foi sozinho, e isso trouxe consequências. Seu corpo está no limite.”

Olhei para o Gordo. “Ele não está na mesma situação que eu?”

“Ele não é meu sobrinho.” Meu tio respondeu friamente. “Seu terceiro tio contou ao Silencioso que, anos atrás, você entrou em contato com um artefato em um túmulo. Ele não especificou qual. Esse artefato teve um efeito poderoso no seu corpo, mas que está se esgotando. Quando o efeito acabar, tudo o que você fez consigo mesmo nesses anos virá à tona.”

Tentei assimilar a explicação. “E o que vai acontecer comigo?”

“Você realizou proezas incríveis graças àquele artefato. Sua resistência física, até mesmo sua aparência jovem, são resultado direto dele. Mas, quando o efeito desaparecer, você vai envelhecer rapidamente. Seu corpo ficará extremamente debilitado. O que precisa fazer agora é cuidar da saúde.”

Algo não batia. A explicação não combinava com o tom de urgência de antes. Se fosse só isso, por que Ha Zong disse que eu estava condenado?

“Estou bem.” Retirei o guardanapo do nariz. “Eu corro, faço exercícios, durmo cedo e como saudável. Já me recuperei.”

Meu tio pegou o celular, mostrou uma imagem e disse: “Este é o seu pulmão. Tirei esse exame enquanto você estava inconsciente após sairmos do túmulo do Rei do Mar do Sul.”

Peguei o celular, mas não entendia nada da imagem. Ele apontou para duas áreas escuras e explicou: “Essas duas manchas não podem crescer mais. Se você voltar a respirar gases tóxicos em túmulos, vai colapsar. Seu pulmão não é como o dos outros. Aquele artefato substituiu parte das suas funções naturais. Quando o efeito acabar, até um cigarro pode ser fatal.”

“Então eu estou com pulmões de vidro?” Perguntei, meio incrédulo.

“Você precisa de tempo para se recuperar. Não é fatal, desde que tome cuidado.” Meu tio respondeu. “Eu não estou mentindo. Os sintomas vão aparecer em breve.”

“Você mencionou que vou envelhecer rápido. Isso é verdade ou exagero?” Algo ainda parecia errado. Todo o drama indicava que a questão era mais séria.

Após alguns segundos de silêncio, ele admitiu: “O Silencioso e seu terceiro tio estão tentando encontrar uma solução. Não deveriam te contar nada, mas eu não sou seu terceiro tio. Não tenho paciência para segredos. Se não quer morrer antes de mim, vá trabalhar no Armazém Onze e espere por notícias.”   slot


slot:Capítulo 108: Primeiro Dia de Trabalho

Após o discurso do meu tio, as pessoas começaram a se dispersar. Muitos me abraçaram, mas eu não sabia como reagir. Tudo parecia exagerado. Eu me sentia como alguém recém-diagnosticado com uma doença grave, mas que ainda se sentia perfeitamente saudável e alheio ao que viria.

Mais tarde, Pequena Flor sugeriu irmos a uma famosa casa de lagostas na Rua HeFang. Sentamos com o Gordo e o Silencioso. Enquanto os dois não comiam nada, eu e o Gordo empilhamos uma montanha de cascas.

Evitei tocar no assunto sério. Mas no fundo, a preocupação persistia: meu tio nunca revelava toda a verdade. Era seu estilo. Eu temia que ele tivesse minimizado a gravidade.

Depois de algumas cervejas, o peso foi aliviado. Brincamos e rimos, com o Gordo até sugerindo que beber o banho do Silencioso poderia me curar. Pequena Flor finalmente interveio, trazendo más notícias sobre o Vidente Negro.

“Ele não vai aguentar muito tempo.” Disse. “Parece que, no caminho para o Vilarejo dos Mudos, ele ficou completamente cego.”

“Cego?” Perguntei. “Antes ele não conseguia enxergar parcialmente?”

“Agora é total.” Pequena Flor suspirou. “E mesmo que enxergasse um pouco, qual seria a diferença? Ele tem muitos inimigos por sua causa. Se perder totalmente a visão, não dura um mês.”

O Gordo explodiu de raiva. “Quem? Quero nomes! Vamos acabar com todos agora!”

Pequena Flor ignorou o Gordo e olhou para mim. “Ele precisa de um lugar como a Vila da Chuva. Ou, no mínimo, de alguém que o convença a parar.”

Balancei a cabeça. Convencer o Vidente Negro era impossível. Se ele decidiu arriscar a vida, não há o que fazer. O melhor seria escondê-lo até encontrarmos uma solução.


Na manhã seguinte, às 8h, cheguei ao Armazém Onze.

Na entrada, encontrei Bai Haotian segurando flores. “Bom dia, Pequeno Terceiro!”

Assenti e li meu crachá: Diretor. O dela dizia “Gerente”. Fiquei na dúvida sobre quem tinha mais autoridade.

“Sem benefícios ou aposentadoria.” Disse Bai, sorrindo. “Salário em dinheiro. Tem ajuda de custo para transporte e uma folga semanal. Está bom para você?”